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7.10.2019

Salas mistas: Sim ou não?


No outro dia, num grupo de mães e de pais na Internet, li uma questão de uma mãe, apoquentada, porque a filha ia passar a estar numa turma mista na escola, ou seja, com idades entre os 3 e os 6 anos.

Não sei se será o vosso caso, mas gostava de deixar a minha opinião sobre o assunto e de "acalmar" quem está com dúvidas em relação a este assunto.

Salas com idades mistas são, a meu ver, extremamente benéficas. Vejo isto enquanto mãe e mera curiosa nestas questões, não enquanto especialista no assunto, psicóloga ou educadora (que não sou). E, claro, tudo isto dependerá sempre de muitas outras coisas: educadoras, escola, projecto educativo, etc. Estou a falar de creche e de pré-escolar (nas restantes idades ainda não me debrucei).

Fotografia: The Love Project

Mas, à partida, sinto como algo muito positivo. Senão vejamos:

- as crianças mais novas têm nos mais velhos um modelo a seguir e querem reproduzir o que eles fazem;

- as crianças mais velhas tornam-se mais responsáveis, sentem-se mais "líderes" e sentem empatia pelos mais novos, ajudando-os em tudo - vocabulário novo, a arrumar algo, etc

- esta interacção e dinâmica é, de facto, o que se passa "lá fora": nós aprendemos e trabalhamos com pessoas diferentes e de idades muito diferentes e é essa pluralidade que nos enriquece

- os valores que se passam nestes momentos de colaboração e interação são excelentes: por um lado pratica-se a tolerância, a paciência e até a auto-confiança e auto-estima dos mais velhos; os mais novos estão rodeados de um ambiente de generosidade e vão usar essas aprendizagens quando for a vez deles serem os mais velhos da sala

- a independência e autonomia dos mais velhos é muito estimulada e reforçada

- os mais novos, pela primeira vez na sala ou até na escola, são recebidos de braços abertos pelos mais velhos, o que ajuda imenso na integração! (Noto que a Luísa, este ano das mais velhas da sala - fez 3 anos em maio -, era muito querida para os bebés que chegavam e queria participar/ajudar em tudo)

- a competitividade, muito comum entre miúdos da mesma idade, é menos pronunciada e, pelo contrário, a questão de "cada um aprender ao seu ritmo" é acentuada: há menos rótulos, menos "pressas" e um espírito maior de partilha e colaboração entre todos - cada um contribui à sua maneira. 

No caso dos irmãos e dos primos, não notam que é saudável a interação deles, tendo diferentes idades? Então, é igual na escola. 

Acredito que o trabalho de casa - e mesmo em sala - do educador seja grande. Gerir idades e necessidades diferentes não deve ser fácil. Mas acredito também que envolver todos, criar um espírito de pertença e aproveitar as situações de conflito para passar valores seja também muito benéfico para todos. Além de que, desta forma, ainda se deve comparar menos competências e olhar mais para cada um individualmente, estando mais atento às necessidades de cada elemento. Faz-vos sentido isto?

O único ponto menos positivo que encontro nisto tudo é, pela minha experiência, que, por vezes, os mais novos queiram imitar os mais velhos em coisas para as quais ainda não estão preparados. Por exemplo, a Isabel deixou de querer e de conseguir fazer sesta mais cedo do que eu gostaria. Como os amigos mais velhos já não faziam, ela não compreendia por que teria de ficar a dormir quando havia tanto mundo para descobrir. Apesar de notar que ela se aguenta muito bem sem sesta (não percebo que faça mais birras ou que esteja muito mais cansada do que ficava antes) e apesar de eu tentar compensar em casa, indo mais cedo para a cama e acordando mais tarde, todos sabemos da importância de uma sestinha nestas idades (havendo algumas excepções, sim, mas serão isso, excepções).

De resto, notei uma evolução enorme nas duas neste sistema e concordo plenamente com ele. Noto também que a forma como lidam uma com a outra e tentam resolver alguns problemas entre as duas, a empatia, a maneira como a Isabel encoraja e estimula a irmã a fazer tudo, é linda de se ver. Quando ela no outro dia tentou perceber por que razão a irmã estava a fazer birra é algo que não esperava numa miúda de 5 anos.
Por outro lado, a forma como a Luísa consulta a irmã, lhe pede opiniões e ajuda é algo que me enche o coração. Também pode ser - e é, vá, não vou estar a menosprezar o nosso papel enquanto pais - trabalho de casa, mas tem muito a ver com as aprendizagens que trazem da escola. 

Este é um tema que me apaixona cada vez mais. Por isso, caso queiram saber a minha opinião ou experiência com o Movimento Escola Moderna; Montessori, ou com algo relacionado com o projecto educativo ou com a escola delas, digam coisas que eu abordo o tema novamente.

Escrevi sobre a escola delas aqui e aqui.





2.13.2018

A escola das minhas filhas é a melhor!

Parece um daqueles argumentos saídos da boca de uma criança: "a minha escola é melhor que a tua". Mas, perdoem-me a infantilidade, estou mesmo muito contente com a escola em que a Luísa e a Isabel andam.


Primeiro que tudo: as pessoas. 
Na primeira escola da Isabel, não procurei muito. Encontrei, felizmente, uma escola que me enchia as medidas em três assuntos: as pessoas (até hoje tenho uma estima gigantesca pela primeira educadora e auxiliar que lhe calharam, uns amores e pessoas de confiança), a alimentação (era bastante boa, equilibrada e diversificada, com dia vegetariano e seitans e tofus lá pelo meio que a miúda comia na boa, quando em casa era um trinta e um) e o facto de estar relativamente perto do nosso trabalho e de nossa casa. Confesso que não dei uma grande importância ao modelo pedagógico, nem sabia bem o que isso era. Estava preocupada com outras coisas. Fiquei triste quando percebi que, até certa idade não iam à rua com regularidade, porque as fotografias dos miúdos no recreio a tomarem banho de mangueira tinham-me cativado. E chateava-me o facto de não haver horas de sesta mais livres e de acordo com as necessidades deles (com a idade dela, uma sesta depois de almoço era claramente insuficiente). Mas tudo bem. Ela estava a ser amada, acarinhada e estimulada e isso, para mim, era e é o principal. 
Continua a ser a prioridade. Mas, acho, agora e cada vez mais, que as pessoas podem ser melhores se tiverem mais ferramentas, se não tiverem muitos miúdos por sala, se o método / premissas / regras da escola forem também eles melhores, entre outras tantas condições e liberdades...
Gostei de todas as escolas em que a Isabel andou, cada uma com pessoas fantásticas e que a ajudaram a crescer, a ser autónoma, a comer... mas, não desfazendo nenhuma nem sendo injusta (até chorei quando a mudei de escola em Lisboa e em Santarém, por saber o quão especiais eram e o quanto dela gostavam...), mas gosto mais da forma com que lidam com as crianças na escola em que está agora, como lhes falam, o que esperam delas, o que lhes transmitem... não consigo explicar muito melhor do que isto.

Depois: a familiaridade/ participação dos pais.
Ali não há "mãe" para aqui e "pai" para ali. Sabem os nossos nomes. Podemos entrar "por ali fora". Podemos ir à cozinha. Dar pão à Luísa se nos pedir. Entrar nas salas. Sentarmo-nos na roda ou vê-los pintar caixas de ovos ou fazer bolas amachucando folhas de jornal. É bom sentirmo-nos parte e poder acompanhar o que fazem e como fazem, se tivermos essa disponibilidade. 

As actividades.
Gosto de saber que a primeira coisa que fazem na sala da Isabel, por exemplo, é sentarem-se em círculo, a falarem do que lhes apetecer (reunião). Cada um escreve na folha o nome (ou um desenho) caso queira participar e depois, quando chega o momento, fala do que quiser: do que fez, do que vai fazer, do relógio, do boneco, do pai, conta uma história e os outros escutam, fazem perguntas, o que surgir. Gostei de perceber pela conversa da Isabel toda feliz que estiveram a dar os ossos: "mãe, se tocar na minha cara sinto os ossinhos, e aqui nas mãos também". Gosto de saber que depois de uma história, fazem desenho inspirado nessa história. Gostei da forma como trabalharam em grupo, uns foram pintar as caixas, outros fazer as bolas (não há aquela coisa de fazerem todos o mesmo com as mesmas cores, etc, etc). Gosto quando tem de levar um ingrediente para fazerem lá pizza. Ou bolachas. Ou de quando saem para ir ao CCB ver instrumentos. Ou vão ver os cavalos. Ou ao Pavilhão do Conhecimento. Ou ao circo. Gosto do "mapa do tempo" onde desenham se está a chover ou sol. Gosto do jardim da escola. Gosto das histórias que por lá contam e do tempo para brincadeira livre também.

Pormenores que fazem a diferença.
E talvez não sejam pormenores de todo. O período de adaptação. Essencial, a meu ver, e que se verificou na forma rápida como a Luísa se afeiçoou à escola e às pessoas. A Isabel, no primeiro dia, quis logo ficar para a sesta, abençoada filha fácil. Foi o David quem fez o período de adaptação com a Luísa. Foi com elas no primeiro dia, voltou para casa só com a Luísa e voltou a ir buscar a Isabel, que quis logo ficar "o dia todo" no primeiro dia. No segundo dia, a Luísa ficou para almoçar. No terceiro ficou para a sesta, se não me falha a memória e o David ia logo buscar ao lanche. Depois, vimos que corria bem e lá ia ficando mais tempo - acho que na segunda semana já ficava o dia todo. Tudo feito com calma, nem entendo de outra forma, havendo disponibilidade dos pais. Não consigo perceber o que pode correr mal: é porque é injusto para os outros miúdos que estão lá sem pais, que podem ficar com saudades? Interrompe-se a normalidade? Os miúdos habituam-se à presença dos pais? É o quê mesmo, alguém me explica? O que é que justifica o arrancar dos filhos dos braços de uma mãe ou de um pai, que não pode passar da porta para a frente, nem ficar ali a mostrar ao filho que pode confiar naquelas pessoas e que não o está a abandonar com estranhos?
O facto da Isabel me ter vindo dizer que a educadora lhe tinha tido que ela ia ter de resolver o assunto com o J. (uma quezília qualquer que para lá houve, ficando "nas mãos" dos miúdos conversarem sobre o assunto e resolverem. Achei lindo este incutir de responsabilidade neles, sem ir na onda das queixinhas (que fazem parte, bem sei). Conversámos sobre o assunto no carro e percebi que aquilo tinha feito bem à Isabel para perceber que devia pedir desculpa no dia seguinte. Tem 3 anos mas vejo-lhe mais "maturidade" (não queria nada usar este termo) na gestão de conflitos e de sentimentos. Ela adora a educadora, diz que é a "peferida" na escola, logo seguida pela M., uma colega a quem cumprimenta sempre com um abraço quando chega (e que pede para ter 5 anos como ela para não ter de dormir mais a sesta). Isto, para mim, também é um ponto a favor: as turmas mistas. Completamente de acordo.
E, por último, poderem, Isabel e Luísa, estar juntas de manhã e ao final da tarde, numa sala comum. Isto também ajudou muito a adaptação da Luísa, claro. E a Isabel sentia-se muito "irmã mais velha" e fazia-nos o relatório todo, dizia-nos quando a Luísa ia à rua ou quando tinha feito birra ou brincado com ela. 

Estou a esquecer-me de coisas que me fazem gostar muito daquela escola, mas fica para a próxima. Já agora, estão numa escola MEM (Movimento Escola Moderna). :)





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2.06.2018

E quando a Irene é empurrada na escola?

Não vejo a agressão como rótulo de "boa ou má pessoa". Tenho vindo a tentar construir um raciocínio diferente de que a agressão e a violência são formas primárias e animais de manifestação de sentimentos. E, nas crianças, além de terem a imaturidade que justifica muitos comportamentos, também poderá ser sinal de que algo não está bem. 

A Irene - que é a minha filha (e custou quando aconteceu) - já teve momentos em que foi ela a agressora e eu conheço-a. Por isso, se "até a Irene" poderá ter dessas fases/momentos, os outros miúdos também e não é por serem tiranos ou por terem pais que isto ou aquilo, embora seja essa a primeira (e compreensível) reacção. 

Preocupa-me, porém, não poder controlar tudo e protegê-la de tudo (sei que não seria positivo também, mas de certeza que vocês compreendem esta vontade). E, por isso, não lhe dizendo "quando te baterem, chega-lhes também" e não querendo a imaginar a minha filha a ser "mal tratada" por um colega a nível físico e ela lhes responder verbalmente (como andava eu a ensinar) com "não me faças isso, estás a magoar-me", surgiu aqui outra opção para já.

A minha bff, a Susana, assistiu a uma das nossas conversas em que tentei contextualizar a agressão de uma colega da Irene como estando a amiga com "o menino zangado na cabeça" - aconselho o Divertidamente/Inside Out. E a Susana decidiu partilhar uma solução que descobriu quando era pequena, dizia "Xau, Beijinhos". 

Nunca tinha visto isto como solução: o mero afastamento. Claro que me refiro a estes episódios mais característicos da idade da Irene. 

Infelizmente tenho vindo a tomar conhecimento de outras formas de maus-tratos em escola pelos colegas que me deixam muito preocupada e afilita por não conhecer ferramentas que permitam ajudar a travar o comportamento e a resolver o melhor possível a situação. 

Porém, neste momento a solução parece-me muito interessante e acho que passa a mensagem certa à Irene. Vamos vendo, com o tempo, como responder a cada fase sendo que, no entretanto, se trabalha a empatia e a confiança - o melhor que sei, valendo isso o que vale. 

Quero educá-la a pensar no contexto o máximo possível para que não cresça a pensar que as pessoas se dividem assim. Todos nós somos tudo em momentos diferentes. 

Mas claro, que no meio desta aparente calma, preferia que a minha filha não desse nem levasse tareia... 

O que fazem vocês? 

Fotografia: Yellow Savages  Jumpsuits: Little Jack Baby Clothes


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2.04.2018

Sobre a porcaria dos rankings das escolas

Eu sou a boa aluna que via sempre o nome nos quadros de honra das escolas, que recebia diplomas e que terminava o ano com 5 a tudo, ou quase, que nunca teve um 3 na vida, e que entrou para a faculdade com 18,2 ou o que foi. Eu sou a aluna certinha, estudiosa, responsável, participativa, um regalo para qualquer professor e um orgulho para qualquer pai.

Mas eu... eu sou uma privilegiada e tenho noção disso. E eu, neste momento, adulta, em que penso sobre o assunto, tenho noção de que os diplomas são uma merda e de que os rankings da escola são uma falácia enorme e que só perpetuam as disparidades em vez de ajudar a atenuá-las. Eu, que penso sobre o mundo (e nem é preciso muito para se chegar a esta conclusão) tenho noção de que, por mais indicadores que incluam nestes rankings, os colégios e as escolas públicas de contextos privilegiados vão continuar a estar à frente. O que se quer então com isto? O que muda? O que nos acrescenta? 

Todos os anos a mesma luta, a mesma concorrência desleal para se concluir o quê? Que a escola 234 é melhor que a 300, como comparava o Alexandre Henriques, no Público? Em quê? Tem um melhor projecto educativo? Teve menos alunos retidos? Tem mais ou menos alunos que conseguem pagar explicações? Mostra o ranking que há ali alunos que em vez de estarem a estudar para a prova x tiveram de tomar conta do irmão bebé porque o pai estava no segundo turno do dia? Mostra o quê, exactamente? Não haverá escolas fantásticas, que fazem um esforço enorme para integrar todos e mitigar as carências, que fazem das tripas coração para ensinar e chegar a todos, e que não estarão num bom lugar no ranking? Valorizemos a escola.

A escola tem de ser muito mais do que um número, do que uma pauta, do que um lugar numa tabela. Onde ficam as necessidades individuais de cada aluno? Onde ficam os esforços de professores em fazer omeletes sem ovos?

Basta a esta cultura da humilhação. Basta aos egos. Basta a este modo de olhar para as escolas como um negócio. Basta a esta competição desleal, a este umbiguismo. 

Eu, boa aluna nas filas da frente, tinha pais presentes que me ajudavam a estudar ou que me pagavam explicações de alemão para que eu aumentasse um 16, a meu pedido, e sabiam quando tinha testes. Tinha férias. Tomava o pequeno-almoço em casa. Tinha presentes nos anos e fora deles. Tinha actividades fora da escola. Tinha bons professores, uma escola onde não passava frio, e alunos de classe média e média alta com quem podia disputar as melhores notas, fazer trabalhos de grupo e aprender. Eu, se tivesse nascido em Regosive*, atrás do sol posto, se tivesse pouco acompanhamento, passasse necessidades e não tivesse boas notas, não iria precisar deste espectáculo, que me esfregassem na cara o quão má era eu e a minha escola. Eu, se tivesse nascido em Regosive, atrás do sol posto e se quisesse ter esperança para dar a volta à situação, não quereria este negativismo todo e este veredicto quanto ao meu futuro, nem este perpetuar de preconceitos. Quereria um movimento da sociedade que procurasse maior justiça nas escolas e que pudesse oferecer às escolas públicas de Regosive as mesmas condições de trabalho da escola privada na capital xpto. E, também, que os exames e os rankings não fossem um fim último, uma obsessão colectiva, em prol dos quais tudo funciona.

O propósito da escola não é nem pode ser esse.




 *nome inventado




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7.10.2017

Não obrigo os meus filhos a dizer "olá" nem a emprestar? Vamos lá falar sobre isto.

Estes tempos de correria, de mais horas de trabalho e menos disponibilidade para os filhos, de redes sociais, likes e pressa e, também, de sentimentos de culpa à mistura, têm servido, pelo menos, para uma coisa boa: pensarmos mais na forma como andamos a educar os nossos filhos e desejarmos melhorar. Traz-nos uma educação mais consciente e, pelo que vejo à minha volta, que quer estar mais atenta às necessidades das crianças, respeitando-as na sua individualidade. Sou fã de tudo isso, procuro seguir-me pela disciplina positiva - e não por isso menos assertiva - que tenta encontrar soluções além do castigo, da berraria, das ameaças e do estalo (sinto que podemos ser todos mais inteligentes do que isso).

No entanto, leio um pouco por todo o lado, uma "nova" corrente que, em virtude desse tal respeito pela individualidade de cada criança, se apropria do "não quer dar beijinho, não dá", "não quer dizer bom dia, não diz", "não quer emprestar, não empresta", "não quer dizer obrigada, não diz", "não quer dizer olá, não diz". Coitadinho. Não quer, não lhe apetece, não faz. Está no seu direito. Estará?

Concordo, em parte, que estará. Acho que não temos de armar ali um escarcéu, acho que não temos de comprar uma guerra ali, muito menos dizer-lhes que são isto ou aquilo, acho que a vida pode seguir, como dantes, com leveza, mas... acho que temos de incentivá-los a tudo isso: a cumprimentar, a emprestar, a agradecer. E não é à frente deles que vamos dizer "não quer dar beijinho, não dá" (estamos a falar de pessoas próximas, também não incentivo que beije desconhecidos assim do nada) ou "não queres dizer olá, não digas", porque acho que isso é estar a dar-lhes força para um comportamento que eu não considero desejável. Ser educado, empático e agradecido é algo bom para a vida em sociedade e começa agora. Acho bonito e acho que nos pode trazer coisas boas.

Se obrigo a dar beijinhos, ralhando ou forçando? Não, não obrigo.
No entanto digo: "não te esqueças de dar um beijinho à Susana!"(educadora) ou "Então e não te despedes da Susana?". "Essa menina quer dar-te um abraço e um beijinho, por que não lhe dás também?".
Se lhe arranco o balde das mãos, aos gritos, para o dar ao João? Não, não arranco.
No entanto digo: "era bom se emprestasses um bocadinho o teu Mínimo a essa menina. Um dia, ela também te empresta o boneco dela". Ou reforço: "ai que querido esse menino que te emprestou a bicicleta. Uau! Vês, que bom que é quando nos emprestam as coisinhas? Tu também emprestas às vezes!". [Quando o miúdo começou a choramingar que afinal queria a bicicleta não precisei de lhe dizer nada: levantou-se e foi entregá-la].
Se lhe dou um calduço por não agradecer alguma coisa? Credo, claro que não.
No entanto, quando se esquece de agradecer, lembro-a das palavrinhas mágicas que faltam.

E, mais importante ainda, claro, DOU (/tento dar sempre) O EXEMPLO. Agradeço, cumprimento, empresto (sim, empresto! Que história é essa de que os adultos não emprestam coisas uns aos outros? Não dividem? Não repartem? Acho que nos anda a faltar uma boa dose de generosidade e de simpatia).

Não temos de ser todos Joanas Paixão Brás, que, com 10 anos, achou que ser generosa era dar a boneca preferida a uma menina que lá foi pedir bonecos ao prédio, descalça. Essa Joana - cheia de vontade de agradar os outros (ainda hoje é assim, com tudo o que isso tem de bom e de mau) - ficou a chorar toda a semana cheia de saudades da boneca preferida, de cabelo ondulado. Aprendi que também não temos de ser tonhós e que há um enorme espectro de possibilidades entre agasalhar os outros e ficarmos nuas. Há meios termos entre aquilo que podemos dar aos outros, sem nos tirar a nós.

Acredito que emprestar o brinquedo preferido no parque não seja fácil (também eu estremeci quando emprestei o telemóvel a uma desconhecida no meio de Lisboa para que fizesse uma chamada), mas às vezes compensa correr o "risco". E pode ser que um dia sejamos nós a querer experimentar o brinquedo. Ou a precisar de um telemóvel (já me aconteceu, três vezes!). São "coisas", caraças. Sim, que custam a ganhar, que devemos estimar, mas são coisas. Se as tratarmos como coisas e se os nossos filhos nos virem a reagir dessa forma perante elas, tratando-as claro, com cuidado e exigindo isso dos outros (ninguém diz o contrário), talvez eles aprendam lições que ultrapassam o lado material e se tornem mais generosos. Mais... humanos.

Por isso, não entendo muito bem esse orgulho todo em gritar aos sete ventos que não se obriga os filhos a agradecer, a cumprimentar, a emprestar. Eu também não a encosto a uma parede, mas sugiro, sugestiono, ensino como acho que se deve fazer. Quando não gosto de alguma atitude, falo com ela sobre isso. Pode sair-me tudo ao lado, mas isto faz-me sentido assim. Por agora, pelo menos, tem dado frutos.

as primas a partilharem os brinquedos da praia



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6.23.2017

Ser mãe de meninas é...

- é ter a delicadeza e a meiguice de mãos dadas à rabugice e ao espírito indomável

- é pôr no cabelo um gancho (ou dois ou quantos quiserem), nas unhas verniz e (tentar) meter no coração bondade e na cabeça espírito crítico

- é conviver com purpurinas e castelos e microfones mas não deixar que apenas isso seja opção

- é prepará-las para saberem viver bem com os seus corpos e (tentar) que não tenham problemas de auto-estima

- é dar-lhes armas para serem independentes, fortes, destemidas e acreditarem que podem ser até astronautas se quiserem

- é querer protegê-las de tudo mas desejar que se saibam proteger e lutar pelos seus direitos

- é dizer-lhes o quão esforçadas e inteligentes são em vez de lhes dizer que são princesas, bonitas e bem comportadas

- é ensiná-las a desejar o melhor às outras mulheres, a apoiá-las, a estar lá para elas, em vez de serem as primeiras a criticá-las e a deitá-las abaixo

- é desejar que o mundo seja delas e que serão livres para ser mães, se quiserem, casar, se quiserem, trabalhar no que quiserem, namorar com quem quiserem, sem pressões da sociedade (e muito menos minhas) desde que o façam com muito amor

- é maquilhar-me à frente delas, emprestar-lhes a maquilhagem, deixá-las andar nos meus saltos altos, mas mostrar-lhes que me sinto bem de cara lavada e com jeans rotos e chinelos e que, se nos sentirmos confiantes na nossa pele, o resto não é importante

- é mostrar-lhes que é possível sermos sensíveis e sermos corajosas, que podemos chorar mas que dentro de nós haverá força para limpar as lágrimas e ir à luta


SER MÃE era o meu SONHO. 
Aconteceu ser mãe de meninas. 
Adoro (adoraria ser de meninos também, tenho a certeza). 
Adoro ser Mãe, ponto. 

E, pensando bem, se fosse mãe de menino talvez lhe desejasse exactamente o mesmo, talvez agisse de forma semelhante. Talvez não lhe comprasse tutus cor-de-rosa por minha espontânea vontade, mas caso ele o desejasse compraria, sem hesitar. De resto, educá-lo-ia com os mesmos valores, com o mesmo cuidado, com o mesmo rigor. Educá-lo-ia a defender as mulheres, a amá-las e a respeitá-las.



















Sapatos Hierbabuena
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2.20.2017

Quero criar um filho feminista.

Não sou feminista. Nem de extremos. Muito menos radical. Cada vez mais me apercebo dos tons de cinzento que existem na vida, para além do preto e do branco. Mas vou ser radical, extremista e feminista a educar o meu filho. Quero e devo criar um homem feminista. Porque o carácter, as opiniões, as atitudes e o bom senso das pessoas adultas começam na educação. Porque não basta serem as mulheres a lutar pelos seus direitos, têm de ser primeiro os homens a perceber o que está errado e a quererem fazer alguma coisa por isso. 

Vou ensinar o meu filho a fazer a cama, a lavar a loiça, a cozinhar, a querer ser proactivo nas tarefas de casa, a perceber que estas têm de ser feitas por todos, não apenas quando lho pedem. Já o eram antes de chegar, continuarão com mais um elemento. Vou exigir-lhe o mesmo grau de perfeição que exigiria se fosse mulher, porque começa em nós essa distinção, essa diferenciação de géneros. As meninas têm de fazer tudo bem feito, os rapazes são trapalhões e, por isso, dá-se o desconto. Não. Nascemos todos com a mesma capacidade de organização, de aptidão, com todos os campos em aberto à espera de serem cultivados. Caso contrário os homens não seriam cirurgiões, arquitectos, escritores, designers. A sensibilidade, noção de espaço e coordenação motora têm todo o seu potencial em criança. Vou sensibilizá-lo para as relações entre homens e mulheres, para a bondade, para a educação para com os outros. Porque abrir a porta a uma mulher não é um acto feminista, nem discriminatório, é uma questão de tradição e educação. É uma questão, acima de tudo, de amor. E tal como o amor deve ser dado e recebido de igual forma em qualquer relação familiar, amorosa, de amizade, deve ser de igual modo partilhado por homens e mulheres. Tal como a nossa casa é habitada por homens e mulheres, deve ser tratada e conservada de igual modo pelos dois. Tal como os filhos são originalmente criados por pais e mães, devem ser cuidados pelos dois, em igual responsabilidade.

É nossa responsabilidade, de mães e pais, mudar o mundo para melhor. E temos esse poder nas nossas mãos. Não precisamos da pressão de inventar a cura para o cancro ou da resolução dos problemas ambientais, podemos, sim, mudá-lo para muito melhor com tão pouco. E o tão pouco é ensinarmos aos nossos filhos que nascem iguais, têm oportunidades iguais e responsabilidades iguais. Porque eles serão os próximos directores empresariais, os chefes de serviço, os políticos, alguns deles os primeiros ministros e os presidentes da república. Outros percorrerão o mundo em causas humanitárias, ou serão apenas pais de outras crianças com toda a responsabilidade que isso implica. 

Vou ensinar ao meu filho a importância do amor e do respeito pelos outros. Mas acima de tudo vou ensinar-lhe que um homem não é nem mais nem menos. E que deve ser tão ou mais feminista que uma mulher.




 


Joana Diogo


A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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