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3.13.2018

Nunca gosto de me ver.

Sou muito crítica sempre que tiro fotografias: estou isto, estou aquilo, sou assim ou assado, tenho a cara não sei o quê, o cabelo não sei que mais, tenho manchas do acne, rugas na testa, dentes tortos, queixo torto, ar de quem não sei o quê. Nunca me basto. E isso é uma grande chatice. Sempre que digo que vou tentar melhorar, nesta auto-crítica sem fim, falho. Digo todos os dias às minhas filhas que são lindas, maravilhosas, diferentes, únicas e depois trato-me assim. Tiro fotos atrás de fotos e nunca publico nada porque nunca estou bem. Hoje pedi para me tirarem fotos à hora de almoço e decidi que não ia publicar nenhuma, não gostava de me ver em nenhuma. Até agora. Chega de auto-censura. Chega de querer ser não sei como. Sou assim ou estou assim e isso basta-me.



O casaco é da minha mãe (sim, ainda lhe roubo roupa)
Os brincos, que adoro, são da Papaia
O baton vermelhão - apeteceu-me neste dia mas nem por isso me deu mais auto-estima - é da Sephora 

Também têm problemitas destes parvos?

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3.06.2018

Não temos de conseguir ser boas a tudo.

Ai meninas, demorou mas finalmente consegui meter isto na minha cabeça. O peso que me saiu de cima.
Sempre fui muito perfeccionista. Além de ter toda uma esquadra de polícia dentro da minha cabeça a analisar todos os meus passos, e a castrar muitos deles, a reprimir outros tantos e a desdizer outros ainda (o que pode ser muito desgastante), sempre tive uma enorme necessidade de aceitação. Nunca consegui lidar muito bem com o facto de alguém não gostar de mim. Ficava doente. Lembro-me de ter 13 anos e de me aperceber que duas colegas da turma diziam mal de mim e daquilo me ter deixado a chorar dias sem fim. Necessitei sempre de aprovação. Era carente de alguma forma. Ou tinha pouca confiança em mim. Ainda tenho. Nem sempre, felizmente. Há dias em que o meu ego está em altas (normalmente é quando me estou a marimbar para a opinião dos outros e só me escuto a mim) e que bom que é.

Mas, o que me andava a fazer extrema confusão, principalmente desde o momento em que fui mãe e que, por isso, comecei a acumular diferentes papéis e funções, era o pensamento "não estou a dar conta". E nisso, até ali, eu era uma pessoa que controlava. Podia não saber muito bem o que queria fazer profissionalmente, ir apalpando terreno e experimentando coisas diferentes (nunca fui uma pessoa muito decidida a esse respeito, como vos contei aqui: Não sei para onde vou.), mas no que me metia, dava o meu melhor e fazia-o bem. Trabalhava bem, era criativa, acumulava funções e trabalhos, horas e horas e, apesar de cansada, era um cansaço diferente, diria até um cansaço que me dava prazer (conhecem a sensação?). Acho que era workaholic. Mas conseguia, assim mesmo, ir ao cinema, ir arranjar as unhas ou fazer uma dieta ou ir ao ginásio. Tinha tempo dentro da falta de tempo. Quando deixei de conseguir fazer tudo o que queria fazer e bem, comecei a ficar angustiada. Tinha sono, cansaço acumulado e tinha uma bebé a precisar de mim e eu a chegar na hora de fecho da creche, o trabalho a precisar de mim e eu a achar que era insubstituível e com dificuldade em delegar funções, sem grande tempo para a vida pessoal, amigos, família, filmes e tempo para mim. Foi difícil gerir esta incapacidade. Andei ainda um ano e tal a querer ser Super Mulher (ou a achar que é o que esperam que sejamos e a tentar sê-lo de boa cara). Percebi que podia baixar a guarda e mandar tudo à fava quando estava grávida da Luísa. Estava com demasiado trabalho em cima, demasiadas responsabilidades, estava a perder peso e não estava a conseguir ser mãe como gostaria. Desistir da minha carreira na televisão - ou colocá-la em standby - foi a solução mais óbvia (tomada em família).

Agora que voltei a ter um trabalho fixo, senti, a par do regresso da adrenalina, essa necessidade de conseguir dar conta de tudo. O trabalho, a casa, o blogue, as miúdas, consultas. Não queria falhar em nada. E com a minha mania para o perfeccionismo, lá veio a censura. Lá veio o meu diabinho a dizer-me que eu não era boa o suficiente a nada se não conseguia fazer o malabarismo e se já estava a falhar em algumas coisas. Mas o meu cansaço e, ao mesmo tempo, esta doença da Luísa fez-me perceber (só agora) que tenho o direito de falhar, sem estar necessariamente a falhar. Não faz mal se adormeço com as miúdas e se ignoro o despertador quando ele toca às 22h para ir trabalhar. Não faz mal se não acabo o que me comprometi (comigo mesma) a fazer à noite, extra horas. Se a louça fica por lavar ninguém morre com isso. Se comem outra vez arroz tanto lhes dá. Se eu estou dois dias sem vir aqui ao blogue, ninguém me despede (e vocês não ralham comigo). Não faz mal se eu não conseguir ser boa a tudo nem sequer faz mal se eu não for extraordinária em nada. A vida corre e vai muito além disso.

Quero ouvir a Isabel a dizer-me de manhã que sou muito quentinha e fofinha. Quero aquele sorriso da Luísa quando me vê. Quero babar-me a ver um filme que, de tantas vezes que é recomeçado, mais parece uma série. Quero respirar fundo sem sentir o peso do mundo nos ombros. Se eu não salvo pessoas, o resto pode esperar. Posso permitir-me ser só boa a algumas coisas (ou nem sequer ser boa noutras e aprender a lidar com isso). Posso permitir-me dizer que não. Seleccionar. Filtrar.

Custou-me chegar até aqui. Não sei se a isto se chama experiência de vida se maturidade se o quê. Dantes confundia esta postura como sendo desmazelo ou desistência. Agora sinto que devo desistir de querer o mundo com a sofreguidão com que sempre o quis. Sinto que devo desistir de me pressionar a ser TUDO para conseguir uma calma que me faz mais falta em algumas coisas. Sinto que devo dormir quando o corpo me pede. E que o email fica para depois e ninguém morre por isso. Nem eu sou ISTO ou AQUILO se não corresponder às expectativas que os OUTROS têm de mim. 

Seria hipocrisia se dissesse que se chama a isto LIBERDADE, numa vida tão condicionada e tão cheia de grilhões e de normativas. Mas é um passo. É um "não faz mal" que me apazigua. É deixar só um polícia dentro da minha cabeça em vez de toda uma esquadra e ainda dar-lhe férias algumas vezes. É julgar-me menos.

Não sou boa a tudo. Não consigo fazer tudo. E não faz mal.



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2.06.2018

E quando a Irene é empurrada na escola?

Não vejo a agressão como rótulo de "boa ou má pessoa". Tenho vindo a tentar construir um raciocínio diferente de que a agressão e a violência são formas primárias e animais de manifestação de sentimentos. E, nas crianças, além de terem a imaturidade que justifica muitos comportamentos, também poderá ser sinal de que algo não está bem. 

A Irene - que é a minha filha (e custou quando aconteceu) - já teve momentos em que foi ela a agressora e eu conheço-a. Por isso, se "até a Irene" poderá ter dessas fases/momentos, os outros miúdos também e não é por serem tiranos ou por terem pais que isto ou aquilo, embora seja essa a primeira (e compreensível) reacção. 

Preocupa-me, porém, não poder controlar tudo e protegê-la de tudo (sei que não seria positivo também, mas de certeza que vocês compreendem esta vontade). E, por isso, não lhe dizendo "quando te baterem, chega-lhes também" e não querendo a imaginar a minha filha a ser "mal tratada" por um colega a nível físico e ela lhes responder verbalmente (como andava eu a ensinar) com "não me faças isso, estás a magoar-me", surgiu aqui outra opção para já.

A minha bff, a Susana, assistiu a uma das nossas conversas em que tentei contextualizar a agressão de uma colega da Irene como estando a amiga com "o menino zangado na cabeça" - aconselho o Divertidamente/Inside Out. E a Susana decidiu partilhar uma solução que descobriu quando era pequena, dizia "Xau, Beijinhos". 

Nunca tinha visto isto como solução: o mero afastamento. Claro que me refiro a estes episódios mais característicos da idade da Irene. 

Infelizmente tenho vindo a tomar conhecimento de outras formas de maus-tratos em escola pelos colegas que me deixam muito preocupada e afilita por não conhecer ferramentas que permitam ajudar a travar o comportamento e a resolver o melhor possível a situação. 

Porém, neste momento a solução parece-me muito interessante e acho que passa a mensagem certa à Irene. Vamos vendo, com o tempo, como responder a cada fase sendo que, no entretanto, se trabalha a empatia e a confiança - o melhor que sei, valendo isso o que vale. 

Quero educá-la a pensar no contexto o máximo possível para que não cresça a pensar que as pessoas se dividem assim. Todos nós somos tudo em momentos diferentes. 

Mas claro, que no meio desta aparente calma, preferia que a minha filha não desse nem levasse tareia... 

O que fazem vocês? 

Fotografia: Yellow Savages  Jumpsuits: Little Jack Baby Clothes


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2.04.2018

Sobre a porcaria dos rankings das escolas

Eu sou a boa aluna que via sempre o nome nos quadros de honra das escolas, que recebia diplomas e que terminava o ano com 5 a tudo, ou quase, que nunca teve um 3 na vida, e que entrou para a faculdade com 18,2 ou o que foi. Eu sou a aluna certinha, estudiosa, responsável, participativa, um regalo para qualquer professor e um orgulho para qualquer pai.

Mas eu... eu sou uma privilegiada e tenho noção disso. E eu, neste momento, adulta, em que penso sobre o assunto, tenho noção de que os diplomas são uma merda e de que os rankings da escola são uma falácia enorme e que só perpetuam as disparidades em vez de ajudar a atenuá-las. Eu, que penso sobre o mundo (e nem é preciso muito para se chegar a esta conclusão) tenho noção de que, por mais indicadores que incluam nestes rankings, os colégios e as escolas públicas de contextos privilegiados vão continuar a estar à frente. O que se quer então com isto? O que muda? O que nos acrescenta? 

Todos os anos a mesma luta, a mesma concorrência desleal para se concluir o quê? Que a escola 234 é melhor que a 300, como comparava o Alexandre Henriques, no Público? Em quê? Tem um melhor projecto educativo? Teve menos alunos retidos? Tem mais ou menos alunos que conseguem pagar explicações? Mostra o ranking que há ali alunos que em vez de estarem a estudar para a prova x tiveram de tomar conta do irmão bebé porque o pai estava no segundo turno do dia? Mostra o quê, exactamente? Não haverá escolas fantásticas, que fazem um esforço enorme para integrar todos e mitigar as carências, que fazem das tripas coração para ensinar e chegar a todos, e que não estarão num bom lugar no ranking? Valorizemos a escola.

A escola tem de ser muito mais do que um número, do que uma pauta, do que um lugar numa tabela. Onde ficam as necessidades individuais de cada aluno? Onde ficam os esforços de professores em fazer omeletes sem ovos?

Basta a esta cultura da humilhação. Basta aos egos. Basta a este modo de olhar para as escolas como um negócio. Basta a esta competição desleal, a este umbiguismo. 

Eu, boa aluna nas filas da frente, tinha pais presentes que me ajudavam a estudar ou que me pagavam explicações de alemão para que eu aumentasse um 16, a meu pedido, e sabiam quando tinha testes. Tinha férias. Tomava o pequeno-almoço em casa. Tinha presentes nos anos e fora deles. Tinha actividades fora da escola. Tinha bons professores, uma escola onde não passava frio, e alunos de classe média e média alta com quem podia disputar as melhores notas, fazer trabalhos de grupo e aprender. Eu, se tivesse nascido em Regosive*, atrás do sol posto, se tivesse pouco acompanhamento, passasse necessidades e não tivesse boas notas, não iria precisar deste espectáculo, que me esfregassem na cara o quão má era eu e a minha escola. Eu, se tivesse nascido em Regosive, atrás do sol posto e se quisesse ter esperança para dar a volta à situação, não quereria este negativismo todo e este veredicto quanto ao meu futuro, nem este perpetuar de preconceitos. Quereria um movimento da sociedade que procurasse maior justiça nas escolas e que pudesse oferecer às escolas públicas de Regosive as mesmas condições de trabalho da escola privada na capital xpto. E, também, que os exames e os rankings não fossem um fim último, uma obsessão colectiva, em prol dos quais tudo funciona.

O propósito da escola não é nem pode ser esse.




 *nome inventado




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Não devemos estar juntos (só) pelos nossos filhos.

No seguimento do meu post da semana passada "Então não é amor" recebi uma mensagem que me deixou a pensar, ainda mais, neste tema. 

Nem a propósito, nesse mesmo dia, a Porta dos Fundos publicou o sketch Vida de Pai, que deu que falar nas redes sociais por satirizar a facilidade da gravidez e da chegada de um filho para o Pai. Para ALGUNS PAIS. Queria acreditar que será, cada vez mais, a minoria, mas não sei se será bem assim: não posso reger-me pela minha realidade e pela da maioria das minhas amigas e amigos porque sei que isso não faz a regra: bem sei que há milhares de realidades e de contextos e hábitos. No entanto, isso não impossibilita que eu dê a minha opinião sobre o tema, correndo o risco de ser demasiado generalista e/ou simplista. Será sempre a minha perspectiva e experiência sobre o tema, como mulher, mãe, amiga e filha e não um estudo científico ou uma reportagem.

Na mensagem diziam-me que aquele post não parecia vir de uma mãe extremosa, que põe o interesse dos filhos à frente de tudo o resto. Falava-se do facilitismo com que as mulheres agora se separam dos pais dos filhos, quando foram elas que os escolheram. E também que não deveria haver mais nenhum elemento egoísta na relação, porque quem sofre com o divórcio serão sempre os filhos. Falou-se de muita coisa ali (atenção que prezo muito quem me enviou a mensagem, apesar de estarmos em pontos diametralmente opostos em muitas opiniões). E não acho nada que eu tenha a verdade absoluta. Tenho noção de que cada caso é um caso, cada relação, cada suporte emocional, cada modo de encarar a vida, a família e as relações.

Mas continuo a bater o pé para levar a minha avante: eu não seria feliz se o pai da minha filha não se revelasse um pai, naquilo que, para mim, é a verdadeira acepção da palavra. Nem se não se revelasse um companheiro que faz das tripas coração para estarmos todos bem, em família, partilhando o bom e o mau. Dizia-me que não havia muitos homens como o David. Não sei se não há muitos Davids (conheço alguns). O que eu digo é que se não há, devia haver. E não, não há nenhum romantismo nisto, há pragmatismo. Se não há Davids e se mais Davids fariam mais mulheres e famílias felizes, vamos então educar os miúdos de hoje a saberem que podem conciliar a carreira com os filhos. Vamos educar os miúdos de hoje a que um homem também pode ser educador de infância. E que um pai também pode tirar a licença. E que um pai também vai às consultas com o filho e que sabe qual é o peluche ou a canção que o acalma de noite ou a hora a que tomou o último Benuron. Porque a mãe também pode querer ir a uma reunião importantíssima. Porque a mãe também tem o direito de se sentir feliz e realizada com o seu trabalho, sabendo que o filho ficou com a outra pessoa que o conhece tão bem, ou melhor do que ela, e em quem confia.

Nos dias de hoje, homens e mulheres devem ser livres para escolher o que querem fazer da vida e devem poder conseguir conciliar o papel de mãe e de pai com o trabalho. Ou devem, em família, chegar à conclusão que um deles quer ficar em casa com os filhos e o outro vai trabalhar. Ou tentar trabalhar, caso queiram e possam, cada um em part time. Ou poderem ter ambos uma carreira, trabalharem os dois, e estarem ambos próximos dos filhos, um dia mais um do que outro. O que quer que seja a resolução de ambos, tem de poder ser concretizada, sem tabus e preconceitos.

Um filho ou uma casa não é responsabilidade só da mãe. Se há mães, e pais, que preferem que assim seja, que se conjugam e que ambos acordam com a distribuição mais "clássica", digamos assim, dos papéis, perfeito (desde que os filhos, homens e mulheres, saibam que esse modelo não tem de ser necessariamente replicado). Enquanto todos estivermos bem com as nossas escolhas, todos estarão bem. 

Agora, quando há uma má distribuição de tarefas e de interesses e há frustração de parte a parte ou quando já não se consegue arranjar um laço que una o casal além das coisas práticas do dia a dia e dos filhos, não acho que as relações devam durar "só" porque sim. Não me parece, sequer, que haja facilitismo na hora de dizer "basta". Não conheço quem o tenha feito, só porque sim. Conheço quem tenha tentado e tentado e tentado, mas não estava a ser feliz. Achar que essas pessoas não são fortes porque não aguentaram o barco parece-me injusto e até um bocadinho victim blaming. Falando de uma classe média que quando chega do trabalho e quer ter momentos de qualidade com os filhos,  com jantar para fazer, roupa para preparar, banhos para dar e casa para arrumar e quando o marido marca reuniões para essa mesmíssima hora, para evitar "a hora da crise", ou vai desanuviar/jogar à bola com regularidade, ou está em casa, no sofá, mas muito cansado... quanto tempo se consegue viver sem sentir alguma sensação de desilusão? Quanto tempo temos de esperar para que essa fase passe? Que culpa é essa que nos faz sentir que temos de ser mártires e que tira o peso de cima deles? Esta sociedade patriarcal está muito presente em tudo o que somos, fazemos e sentimos. Temos de nos libertar disso. Temos de tirar de cima das mulheres este peso. 

Atenção: não ponho em causa que haja um período de reajuste difícil de se fazer. Não ponho em causa que o pai ande aos papéis durante uns tempos. E a mãe. Fazemos o luto de muita coisa quando os nossos filhos nascem. Há muitas coisas a gerir, uma responsabilidade enorme, uma procura de balanços, uma sociedade que exige de nós muita coisa ao mesmo tempo, que nos dá muitos likes no Facebook mas poucos abraços na hora em que mais precisamos deles. O sentido de comunidade e entreajuda perdeu-se e fica muito em cima de nós, mães e pais. É difícil não quebrar. 

Mas não. Não devemos continuar juntos só pelos nossos filhos. Nem nos contentarmos com o que há. Devemos procurar a felicidade nas pequenas coisas, sim, tentar uma e mais uma vez, encher-nos de força e jogar a bola para a frente, mas sem escamotear tudo o resto, que nos falta e que vamos engolindo e acumulando, disfarçando e tapando, em camadas, porque é isso que esperam de nós e porque temos de ser fortes. Nem pelos nossos filhos. As crianças precisam de uma mãe e de um pai o mais felizes possível para se sentirem protegidos. Não precisam de estranhos a viver debaixo do mesmo tecto, nem de uma mãe, ou de um pai, que tenta disfarçar que não está feliz, só por eles. Eles sentem tudo. Tudo.

Não quero incitar à rebelião nem desassossegar ninguém com estas minhas reflexões. Quero tentar minimizar a culpa, caso se tenham separado recentemente ou caso tenham decidido fazê-lo (como recebi, aliás, feedback do texto anterior). Quero que não se marquem reuniões de trabalho para as 7 da tarde. Quero que o pai possa ir a consultas sem se estranhar. Quero que os filhos possam crescer com o cheiro e o colo de um pai quando estão doentes ou que este saiba como lhes acalmar uma birra. Quero que as mães tenham com quem dividir o bom e o mau. E que exijam isso. E que os homens percebam isso e sintam isso como uma necessidade e um prazer.

Segundo o estudo Determinantes da Fecundidade em Portugal, de 2014, uma das razões apontadas para não se passar do primeiro para o segundo filho era a "dificuldade sentida pelas mulheres em conciliarem trabalho e família, experimentadas após o nascimento e durante a criação do seu 1º filho. (...) A excessiva dedicação do pai à atividade profissional pode tornar-se um obstáculo à transição para um segundo filho".

"Para além da condição económico‐financeira, o tempo de dedicação aos filhos parece assumir particular relevância tanto na intenção, como posteriormente na decisão: mais tempo para que o pai possa partilhar com a mãe as tarefas domésticas e o cuidar dos filhos, aumentando o tempo dedicado à família. Eventualmente, não existindo hipótese de se concretizar uma partilha de responsabilidades mais igualitária, parece não restar outra alternativa senão permanecer com um único filho."


Isto quer dizer alguma coisa. 

E não. Não há nada de errado ou de egoísta em querer ser feliz. Nada. Se forem boas pessoas, não será nunca de ânimo leve, mas depois de muito pensarem, tentarem, pedirem, depois de duas, três, quatro oportunidades, meses ou anos, que tomarão uma decisão.





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1.29.2018

Então não é amor.

Ele não mudou quando tudo mudou?
Então não é amor.

Ele não quis ser pai, não quis mudar fraldas, não te levou umas torradas à cama, enquanto adormecias sentada, com olheiras até ao pescoço, não pegou na bebé para ires tomar um banho, não pegou na bebé para a conhecer e ser pai dela, para lhe saber o cheiro e a pele sedosa...

O Amor é algo tão arrebatador que até te pode deixar meio banzado, meio desorientado, mas depressa é impelido a encontrar o Norte. O Amor não deixa tantas dúvidas por responder, não é assim tão indecifrável. O Amor não é difícil, ao contrário do que todos os filmes e livros nos fazem crer. O Amor é fácil. Difíceis são as relações. Ou as pessoas. Mas, se houver Amor, ele resiste. Ele resiste às cólicas, às noites mal dormidas, ao mau feitio. Resiste aos momentos de loucura, aos sábados a acordar às 7 horas, às férias que não são férias (chamem-lhe outra coisa pelo amor de Deus!).

Digo eu. Digo eu que (só) amei três homens em toda a minha vida. Digo eu do alto da minha pouca experiência em relações difíceis, em vidas complicadas, em personalidades vincadas ou intempestivas.

Eu sou uma sortuda. Mas, ao lado da sorte que não nego, também acho que escolho bem com quem divido a vida. Acho que me valorizo e não deixo que desçam do patamar que idealizei. Eu não admito que a pessoa com quem cruzo os pés frios debaixo dos lençóis seja egoísta, preguiçoso, desligado. Antes e depois dos filhos. Não admito que me falte ao respeito, que me fale mal, que me trate como inferior. Não admito, tão pouco, que não seja pai e marido, que não partilhe tarefas que cabem aos dois, ou que não haja interesse em organizar uma casa de acordo com o que cada um faz melhor.
Se, depois de discussões, não se chega a nenhum consenso, não se tenta mudar ou melhorar: então não é amor. 

Há relações que sobrevivem sem companheirismo e sem Amor? Sim, há. Haverá algo que compense tudo isso? Para mim, não. Viver aprisionada a uma esperança sem grande futuro não me encheria as medidas. Deve ser duro: deve ser duro não reconhecer no outro a imagem que idealizou. Deve ser duro abandonar um projecto a meio. Deve ser ainda mais duro quando há filhos envolvidos. E contas. E expectativas. E sonhos. E desilusões.

Mas se não estás feliz, então falta AMOR. Algures. Procura-o. Tenta. Uma e mais uma vez. Procura-o. Em ti. Nele. Se não o encontrares, então não é Amor. É o que resta dele. Não te contentes com restos.







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1.28.2018

A primeira vez que falou da morte.

Ainda há uns dias estava na minha barriga e agora já me está a perguntar se vou morrer muito velhinha.

O tema chegou mas, por enquanto, sem qualquer angústia. Pareceu-me.

Respondi-lhe que sim, vou morrer muito velhinha, quando ela também for já muito velhinha. Foi o que me saiu, nunca tinha pensado muito no assunto. Lembro-me, no entanto, de sentir essa angústia. Tinha medo de que a minha mãe e o meu pai morressem. E lembro-me precisamente de que a resposta de que iam morrer já muito velhinhos não me apaziguava grande coisa. Eles iam morrer e era difícil de lidar com isso. Lembro-me bem do dia em que morreu uma amiga dos meus pais, mãe de duas miúdas. Já era mais crescida, devia ter uns 8 anos, mas aquilo abalou-me. Como é que aquelas crianças iam viver sem a mãe? Aprenderam a rezar-lhe, a falar com ela. Eu só chorava a imaginar tamanha dor. Depois a minha avó Isabel, a primeira pessoa da família a partir e o primeiro sentir na pele a perda. Estive anos e anos com medo de telefonemas. O telefone soava e eu pensava que viriam de lá más notícias. O telemóvel tocava e eu achava que alguém iria dizer que alguém que eu amava tinha morrido. Tive medo.

Acho que nunca se está preparado para a perda de alguém, por mais religioso que se seja. Pelo menos não na nossa cultura. Mas acho que a idade me trouxe uma maior serenidade em relação a este assunto - ou prefiro pensar que sim.

Mas agora tenho de pensar neste tema a sério, mais não seja para arranjar formas de o explicar à minha filhota.
Como falam deste tema com os vossos filhos ou como pensam vir a falar? Que textos/livros aconselham?

Obrigada!




C&A




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1.23.2018

Que coisas querem fazer como os vossos pais?

Isto dava pano para mangas. Mas, quando vejo as minhas filhas com os meus pais, acabo por me lembrar muitas vezes da minha infância. Regresso a ela. Fui muito, muito feliz. E há muitas coisas que adorava replicar na minha relação com a Luísa e com a Isabel.

O QUE QUERO FAZER COMO OS MEUS PAIS

- deixar as minhas filhas irem para a minha cama (fim-de-semana a começar mesmo bem);
- contar-lhes anedotas e histórias de quando era pequena (lembro-me de adorar);
- fazer-lhes cócegas até se engasgarem de tanto rir;
- sair para a rua e passear com elas muitas vezes, mesmo que não se tenha dinheiro para mandar cantar um cego (para apanhar ar ainda não se paga imposto);
- ter paciência para lhes explicar matérias, ajuda com o trabalho de história ou com as contas de matemática;
- fazer o esforço de me deslocar, aos domingos, para 70 kms de distância se isso as fizer cumprir um grande sonho (no meu caso, eram os ensaios dos Onda Choc);
- não ter temas tabu;
- educar com firmeza mas com respeito por elas;
- dançar sem vergonha (mesmo que haja ali uma idade em que isso possa envergonhar um bocadinho os filhos);
- deixar-lhes o pequeno-almoço ao alcance para que possam prepará-lo enquanto eu durmo mais uma horinha ao sábado (anseio por esse momento ahah);
- emprestar roupa às minhas filhas (e vice-versa) :)
- ensinar-lhes que em casa todos ajudam;
- usar as piadas e o sentido de humor o mais que puder para educar e passar mensagens (é tão mais divertido!);
- deixá-las escolher as actividades que queiram; deixá-las escolher a profissão que queiram; deixá-las traçar o seu caminho, sempre a saber que podem contar comigo para tudo.








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