Desculpem, filhas.
A mãe errou.
A mãe não soube lidar com uma birra enorme e demorada. A mãe estava cansada. A mãe tentou várias coisas que não resultaram.
Depois de eu ter avisado várias vezes que se não viessem para a cama, não poderia haver história, porque estava mais que na hora de dormirem, cumpri. Cumpri, mesmo sabendo que, muito provavelmente, haveria choro, pedidos de desculpa, promessas, pedidos desesperados e até gritos.
E houve, houve tudo isso, mas numa proporção difícil de qualquer ser humano - que não um monge eremita - aguentar.
Falei em voz calma. Disse que não poderia ler a história, senão não estaria a ser uma boa mãe. Que para a próxima, não se lembrariam que é importante cumprir o que a mãe diz. Continuariam, todos os dias, a não ouvir a mãe. E que, assim, no dia seguinte, se iriam de certo lembrar. Que a mãe cumpre o que avisa. Que se a mãe explica uma vez, duas vezes, por que razão têm de ir para a cama contar a história nos próximos minutos: senão não dormem o suficiente. As escolhas têm consequências. E eu levei a consequência até ao fim.
No meio da birra, saí do quarto para me acalmar. Falei de forma calma. Dei água. Ofereci abraços e colo a cada uma. Dei colo a cada uma. E nada vos faria acalmar nos minutos que se seguiram. Foi desesperante.
Eu sei que não estavam a fazer aquilo para me desafiar, para me irritar. Eu sei que estavam com sono e cansadas e frustradas. Eu sei disso tudo e sabia. E devia ter mantido o controlo. Mas não mantive. Cada uma levou uma palmada, acho que ao mesmo tempo, com cada uma das minhas mãos, quando me tentava levantar para me ir acalmar e se agarraram a mim como lapas aos gritos. Nem me lembro aonde vos acertei. Acho que nas pernas?
Odiei a sensação. Não acho que "estavam a pedi-las". Não acho que "mereceram". Não acho que "tinha de ser". Nem que "as crianças de hoje em dia têm é falta de palmadas". Muito menos que "uma palmada na hora certa" faz falta. De tudo o que tenho lido, de estudos científicos feitos, de pedopsiquiatras, psicólogos, e também de educação com apego e disciplina positiva, nada parece apontar que faça falta, muito pelo contrário. A ciência evoluiu para estar do vosso lado, do nosso lado. Para que compreendamos melhor como funciona o cérebro de uma criança. Que tem neurónios-espelho, que reproduzem e imitam o que fazemos e que, também por isso, nunca os gritos e palmadas resultarão a longo prazo - e só farão com que os imitem. Que há um espectro enorme entre autoridade e permissividade.
Eu sei disso tudo, mas, nesta noite, não consegui.
Mas de nada serve a culpa, vamos a estratégias para que não volta e acontecer. Por vocês, mas também por mim.
- durante a semana, vamos experimentar não ter cá em casa vizinhos, que ficam mais excitadas;
- nos dias em que vos vou buscar mais tarde, como foi o caso (18h), tem de haver à mesma um tempinho para brincarem só as duas, livremente
- antecipar ainda mais os horários / sequências do que vem a seguir: "depois de lavarmos os dentes, contamos logo a história, para termos tempo para tudo", para não ser tão em cima o aviso
- voltar a fazer yoga e meditação, para voltar a ter mais paciência
Sei que já me desculparam. Eu também já. Errar é humano. Continuar a errar sem tentar fazer nada para evitar errar é que já me parece um bocado totó.
Se tiverem desse lado alguma dica (dentro da disciplina positiva, ser ser "eu daria uma bordoada a cada uma logo no início que é para verem quem manda", pff), sou toda-ouvidos.